Aula dia 25 de agosto de 2020[1]
Autor: Wallace de Moraes
Edição/transcrição: Cello Latini
Decolonialidade significa estar contra a colonialidade do poder que por sua vez está casada com a modernidade, o capitalismo, o patriarcado, sendo atravessada pelo racismo. Todavia, muitos supostos “decoloniais” não utilizam nenhuma referência de movimentos sociais indígenas e negros. Não adianta utilizar partido político como referência, como diz Grosfoguel, a esquerda ocidentalizada latino-americana, que está baseada muito mais em ideias eurocentradas do que nas perspectivas de liberdade e de emancipação de negros e indígenas. Assim, não adianta. Temos que pensar em movimento social autônomo, que busque liberdade e igualdade, que pense em Ação Direta, que pense em horizontalidade, porque os meios, segundo o pensamento anarquista, determinam os fins; isto é, a forma como encaminho minha luta determina seu resultado. Não se deve pensar pelo caminho, muito utilizado, segundo o qual os fins justificam os meios. Porque não posso usar um meio autoritário, centralizado, hierárquico e desigual para buscar, depois, igualdade, liberdade, horizontalidade. Se desejamos horizontalidade, igualdade, o fim das discriminações sociais, o fim do racismo, devemos caminhar agora, sermos antirracistas nesse momento.
E ser antirracista é um papel histórico para todo negro, para todo indígena, para seus descendentes. Mas também para todo branco que quer também uma sociedade igualitária. Os brancos devem se convencer disso; devem reconhecer seu lugar de privilégio, escutar e lutar contra o racismo, e ouvir os negros, ouvir indígenas, não tutelando-os.
O que entendo como decolonial nutella é aquele que busca tutelar o movimento social, tutelar o negro, o indígena, determinar o que estes devem fazer por sua autonomia, e não trabalhar e colaborar pelo antirracismo. O decolonial nutella não é anticapitalista. O decolonial raiz deve ser anticapitalista, antirracista, antipatriarcal, ao passo que o decolonial nutella não entende o que é decolonialidade, não atua e não escuta movimentos sociais negros e indígenas, não sofre o racismo cotidianamente, o racismo epistêmico que tanto reina nas universidades brasileiras, latino-americanas, ocidentalizadas.
Referências
GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado – Volume 31 Número 1 Janeiro/Abril 2016.
[1]Edição/transcrição de Cello Latini do vídeo/aula de Wallace de Moraes no canal do CPDEL do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=t5Xfe0goC3g&t=72s