Carta do Quilombo do IFCS por transportes para os estudantes dos campi do Centro

Em 1955, no ensaio “Patologia social do branco brasileiro”, Alberto Guerreiro Ramos diferencia o tema do negro e a vida do negro. Segundo ele, como tema, o negro tem sido objeto de estudo dos sociólogos e antropólogos, e claro, os historiadores. Em contrapartida, como vida, “o negro vem assumindo o seu destino, vem se fazendo a si próprio, segundo lhe têm permitido as condições particulares da sociedade brasileira”.

A partir da lei de cotas de 2012, que alguns dos professores do IH e do IFCS foram contra, os estudantes negros estão assumindo o seu destino dentro da academia, estão, ao mesmo tempo, sendo o negro-tema e o negro-vida. Sabemos que para os racistas, o negro como protagonista causa incômodo. Isso fica evidente nos recentes casos de racismo que aconteceram no IFCS/IH.

Apesar de estudar a vida do negro, o branco tem dificuldade de lidar com o negro-vida, pois, para eles, tal sujeito deve ser subalterno. Por isso, é tão fácil falar sobre violência policial contra a juventude negra nas redes sociais; na monografia/dissertação/tese, mas, ao mesmo tempo, pedir mais policiamento em volta do campus do IH/IFCS. Os brancos sabem que as pessoas que mais sofreram abordagem policial e violência policial serão as pessoas negras, principalmente os homens negros, mas pedem o policiamento.

O Quilombo é um espaço de resistência e organização, que existe pela e para a preservação das vidas de negros, indígenas e de todos os corpos subalternizados/discriminados. Não podemos, enquanto Quilombo, nos silenciar diante da movimentação de alguns estudantes do IH para pedir maior presença da polícia em torno do IFCS. Sabemos que o papel histórico da polícia é aprisionar corpos negros e indígenas, corpos insubmissos perante o Estado e suas instituições racistas.

Enquanto Quilombo do IFCS, rechaçamos completamente essa iniciativa e propomos alternativas que não envolvam em nosso entorno a presença dos agentes assassinos do Estado.
Nesse sentido, propomos que a UFRJ viabilize transportes, por meio de ônibus ou vans, que circulem no horário noturno entre os campi do Centro ( IFCS/IH; Direito; Escola de Música) passando por av. Presidente Vargas, Praça XV, av Rio Branco, Central do Brasil).

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