CARTA ABERTA DO QUILOMBO DO IFCS POR POLÍTICAS DE COTAS EM TODAS AS INSTÂNCIAS DE SELEÇÃO DA UFRJ

Rio de Janeiro, 18 de março de 2022.

Neste ano em que a Lei de Cotas faz 10 anos,  é de fundamental importância que todas as pessoas antirracistas lutem juntas não só pela sua permanência, como também por sua efetivação e ampliação. 

Nesse sentido, é de impressionar como depois de uma década as seleções para monitores, professores substitutos, bolsistas de IC, não levem em consideração as discussões sobre ações afirmativas.

Quando o Quilombo do IFCS foi fundado, em outubro de 2021, colocamos em nosso documento as necessidades supracitadas e as apresentamos para a direção do Instituto. Na comissão de elaboração de edital para seleção de monitoria do departamento de Ciência Política, novamente apresentamos a demanda, em seguida enviamos um email cordial para todos os departamentos do IFCS que estavam prestes a realizar seleções para monitores. 

O Quilombo do IFCS demandou que 50% das vagas de monitoria para a graduação fossem destinadas a estudantes de baixa renda, negros, indígenas, com deficiência e também estudantes trans. No entanto, somente os departamentos de Ciência Política e de Filosofia nos atenderam, mas em parte de forma insuficiente. Ambos vão conceder somente 20% de cotas a estudantes negros e indígenas, recusando-se a atender a íntegra da proposta do Quilombo. Os outros departamentos sequer levaram em conta nossas demandas. Existem muitos significados desses atos. O primeiro e mais importante é que, ao não atenderem uma proposição antirracista, ignorando a implementação de uma lei reparatória, os departamentos nos induzem a crer que não são favoráveis à mesma. Fato que não nos causaria espanto, pois a Lei de Cotas encontrou forte resistência no IFCS da UFRJ. Os filhos daqueles que lutaram contra as cotas se multiplicaram aqui. 

É uma vergonha que precisemos lutar para garantir algo que deveria ser considerado o mínimo. Na verdade, se expressa o quanto essas Ciências Sociais são racistas. 

Realizamos essas demandas, pois sabemos da importância da reserva de vagas para alunes cotistas, em virtude da grande dificuldade destes permanecerem na universidade sem apoio financeiro. Uma vez que os auxílios não contemplam toda a gama de estudantes cotistas. Indubitavelmente, a bolsa de monitoria pode ser essencial na trajetória acadêmica destes estudantes, ao lhes garantir uma renda dentro da universidade, ainda ligada aos estudos. Logo, contribuindo para que estes não precisem abandonar o curso, que é integral, para ter um complemento de renda.  Ou mesmo ter a necessidade de uma jornada exaustiva na junção de trabalho e universidade que comprometa os estudos. Assim, se faz a necessidade das bolsas estudantis, nesse caso específico, de monitoria. 

Ademais, a monitoria não deve ser vista simplesmente como uma questão de mérito, visão  tipicamente liberal. Mas como uma iniciação à docência, na qual o aluno deve aprender com o professor. Nesse caso, o docente tem responsabilidades para com esse aluno. O monitor não deve ser visto, nem usado, meramente como um auxiliar, serviçal, do docente. O monitor não é um mero substituto do professor, mas deve ser tratado como alguém que aprofundará o seu conhecimento na disciplina e terá interação privilegiada com os demais alunos em troca dialógica e facilitadora do processo de ensino-aprendizagem. 

Outrossim, rechaçamos que o critério para seleção de monitores seja similar ao do edital de seleção para professores permanentes dessa universidade, como nos foi alegado. 

Há estudos que mostram que pelo menos 35,5% dos alunos nas nossas universidades são negros e indígenas. Fato que comprova um descalabro, tendo em vista que mais de 50% da população brasileira é descendente de africanos e indígenas. Por tudo, o percentual de 20% não nos contempla. A UFRJ já adota Ações Afirmativas: Vestibular, Concurso em algumas unidades e pós-graduação em várias unidades. Sendo assim, a decisão também de adotar Ações Afirmativas é legítima e faz parte de avaliações e lutas da própria comunidade da UFRJ e do IFCS.

Os departamentos do IFCS poderiam fazer história, mas vão seguir como seus antepassados contra a ampliação ou mesmo efetivação das leis de cotas. É lamentável ver um Instituto de Filosofia e Ciências Sociais tão embebido pelo pensamento hegemônico eurocentrado. Resta lembrar que a FURG (Universidade Federal do Rio Grande) já contempla o percentual de 50% de cotas tal como solicitamos. Nesse sentido, a UFRJ também está atrasada e não conseguiu alcançar o protagonismo ao não prever o que solicitamos.

As reservas de vagas são um ato de reparação histórica e social e continuaremos a exigi-las. Se nós, negros, não rompêssemos com as amarras e fôssemos contra as leis e o establishment, estaríamos ainda no cativeiro! Avancemos na luta antirracista!

Ass.: QUILOMBO DO IFCS.

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