Por Lenilson Nóbrega
Membro do CPDEL
“80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo”
Segundo o minidicionário de Evanildo Bechara, barbárie é “atrocidade, crueldade; barbarismo; condição de bárbaro, de selvagem. Para o Império Romano, bárbaro era todo aquele que não era romano.
No século XIX, o bárbaro era oposto à civilização. Em meio a difusão do darwinismo social e racismo científico, vocês já devem imaginar quem eram os bárbaros, ou seja, os que praticavam a barbárie. Então, podemos concluir que o bárbaro é o outro; quem comete barbárie é outro. E, de certa forma, a barbárie é tudo aquilo que foge do padrão de civilização.
Hoje, dia 15 de dezembro, o RJTV 1, para se referir a morte de Edson Arguinez Júnior e Jhordan Luiz Natividade em Belford Roxo, usou a seguinte chamada: À espera de respostas para a barbárie. Ou seja, assim como século XIX, usaram o termo barbárie para se opor a civilização. Como se, no Brasil, a polícia, principalmente a militar, tivesse um padrão civilizado para abordar pessoas pretas e favelados. A partir disso, surge o título do texto: barbárie ou modo de operação?
Segundo a Rede de Observatórios da Segurança, a polícia do Rio de Janeiro matou 1814 pessoas, em 2019. Desse total, 86% das pessoas mortas pela polícia eram negras e, enquanto isso, os negros só representam 51% da população do Estado.Um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que “entre 2017 e 2019, policiais mataram 2215 crianças e adolescentes. Destes, 69% eram negros”. Dentre essas crianças, está a Ágatha Félix. No dia 20 de Agosto de 2019, ela foi morta pela polícia no Complexo do Alemão. Segundo o policial que matou, ele tentava atirar em dois homens que estavam em uma moto, mas a arma recochetou e acabou atingindo a menina. Em 2018, enquanto estava indo para a escola – uniformizado -, Marcus Vinicius foi morto pela polícia em uma operação na Maré.
Ainda segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2020, apesar do isolamento social e, em agosto, o STF proibir operação nas favelas, a polícia matou 99 crianças e adolescentes. Em maio deste ano, João Pedro foi morto pela polícia dentro de casa. Segundo a perícia, a casa dele tinha 72 marcas de tiro. Assim, como nos Estados Unidos, com a morte de George Floyd, homem negro morto pela polícia, houve uma série de protestos contra a violência policial no Brasil. Mas, engana-se quem acha que a onda de protestos contra a violência policial é influência dos EUA.
Nas favelas e periferias o Brasil, a população faz protestos quando algum morador morre. Nos casos supracitados, houve manifestações por causa da morte da menina Ágatha Félix. Na morte de Marcus Vinicius também houve protesto. O que diferencia é a proporção e pessoas no protesto e o destaque na mídia hegemônica. Mas não falarei disso aqui, pois o texto iria ficar mais extenso e perderia o foco.
Em suma, poderia citar uma série de casos de jovens mortos por causa da polícia, pois, no Brasil, temos a polícia que mais mata no mundo. Matam, principalmente, pessoas negras e periféricas, então, conclui-se que diferente do que o RJTV 1 diz, o que a polícia faz não é uma simples barbárie, é modos de operação.
Aqui é a Olivia Dias, gostei muito do seu artigo tem muito
conteúdo de valor parabéns.